Depois de iniciado o plano de conquista cultural gradual da capital do reino de Garka, os semideuses ouviram um rumor de uma atividade estranha ocorrendo em um dos prostíbulos da cidade, quando Virgo, infiltrado na corte real, ouviu um dos nobres reclamar que havia duas noites que sua casa de prazer estava sem clientes, que todos os clientes típicos estavam se concentrando em uma casa de prazer simples da zona comerciante da cidade.
Eles foram investigar, e lá encontraram Lura, um semideus do desejo, cujo poder é manipular os desejos dos outros. Eles o levaram até a Cripta Garkan, onde, depois de um interrogatório, o recrutaram para a sua causa. Com um novo semideus em seus números e cada vez mais mortos-vivos trabalhando de servos, o seu objetivo de subjugar esse reino parecia muito mais promissor.
Elevados pela impaciência de Dravok, Lura e Virgo foram até o castelo da capital, onde o conselho dos 20 regentes governava. Para lá foram com o objetivo de tornar sua presença conhecida, de jogar o nome de Dravok como Dravok Garkan, o descendente perdido da família que fundou o reino séculos atrás, e que acabou deposta após ter sido traída pelas outras famílias nobres, sedentas por poder.
No entanto, as coisas não saíram conforme o planejado. Humores se elevaram, e o que era meramente uma busca por apoio dentre os nobres para um tipo de facção apoiadora de Dravok rapidamente se degenerou em um violento golpe de Estado: quando Virgo anunciou a sua presença com um questionamento sobre trazer a família deposta de volta, ele somente recebeu como resposta uma imediata condenação à morte por decapitação. Um dos guardas reais ameaçou avançar para executar a ordem, o que forçou Virgo a tentar desarmá-lo, sem sucesso. Devido a essa resistência, o mesmo guarda desferiu um certeiro golpe de corte no peito de Virgo, ferindo-o gravemente, mas não o matando.
Por um reflexo de sobrevivência, Virgo anunciou então a presença de Dravok, o lendário legionário fantasma, como Dravok Garkan, o descendente perdido do grande Garkan Primeiro. Os regentes, cujos desejos egoístas de poder foram redirecionados para o desejo de servir à família real original por Lura, já o prometeram apoio e conseguiram com que dois dos conselheiros que resistiram à manipulação do semideus do desejo fossem mortos pelos próprios colegas.
De início, Dravok, com a ajuda persuasiva de Lura, até conseguiu um bom domínio da situação, comandando até mesmo os guardas da nobreza que estavam por lá, mas o semideus da guerra, seguindo de forma literal um comando mal pensado de Virgo, executou brutalmente o guarda que o havia cortado momentos antes, dando início a um pânico em todos na corte, que resultou no esvaziamento do local. A situação saiu completamente de controle.
Minutos depois, eles se encontraram encurralados na sala de audiência, cercados pelo pequeno batalhão de guardas reais que um dos regentes, presente em outra parte do castelo, conseguiu juntar em pouco tempo. Por sorte, esse regente, Lorde Miquaad, mostrou-se vulnerável à manipulação de desejo de Lura e foi facilmente convencido a mudar de lado. Em um instante, esse antigo nobre que, mais que tudo, ansiava pelo trono, passou a desejar com o mesmo fervor servir à linhagem de Garkan.
Com mais um nobre membro do conselho, o comandante dos exércitos do reino, sob a influência de Lura, o golpe de Estado foi bem-sucedido, mesmo que o movimento tenha saído um pouco do controle. Foram mortos todos os regentes, nobres e conselheiros que se opuseram, e ainda mais, o jovem rei, um bebê, foi executado de forma cruel, junto de sua mãe e todos os outros membros da falsa família real.
O caos reinou na capital durante a noite do golpe, o que foi algo positivo para Dilun e seu culto dedicado a si. No caos, espalhou-se a notícia de que havia um lugar seguro, a cripta Garkan, recém-descoberta e reformada na necrópole da cidade. Lá, alguns cidadãos procuraram abrigo, onde encontraram isso e muito mais. Os servos múmia de Dilun, chamados de os silenciosos, os receberam com segurança, e seus aprendizes de sacerdote insistiram em explicar os benefícios de ter os mortos como servos, e como a morte não é o fim.
Nas semanas seguintes, os semideuses fizeram suas alterações no governo do reino de Garka, implementaram algumas reformas, como por exemplo, a instituição da religião do Estado, o culto a Dilun. Também aproveitaram o entusiasmo de um jovem arquiteto chamado Goppa, que se voluntariou para construir uma fortaleza nas montanhas para o novo rei. Um local auspicioso para a formação da nova academia de estudos sobre a divindade, idealizada por Virgo uma década antes.
Nos anos seguintes, o reino de Garka se viu em relativa paz. A ideia de usar escravos que não sentem dor, cansaço, não comem ou reclamam se espalhou com facilidade pela cultura do reino, o que causou um problema: a vida mais fácil implicou em uma diminuição nas mortes, e portanto, havia menos mortos para serem levantados de suas tumbas.
Dravok decidiu resolver o problema de forma simples: conseguir os corpos em outro lugar. Durante esses anos, Dravok passou seu tempo com seu exército fiel de legionários e soldados mortos-vivos, realizando incursões em territórios vizinhos, travando guerra com qualquer inimigo disponível com o único intuito de criar mais servos mortos-vivos. Ele eliminou culturas tribais que viviam nas florestas próximas, limpou assentamentos de povos bárbaros e fez incursões a nações vizinhas para suprir a demanda crescente de corpos.
Nesse meio tempo, Virgo e Lura viajaram pelo continente de Pardoris. Eles estavam em busca de mentes brilhantes, pesquisadores e professores para a academia que estava em construção nas montanhas de Garka. Os dois usaram seus dons de leitura mental e manipulação de desejos para tentar persuadir esses eruditos a deixarem a sua vida para trás e irem pesquisar na montanha em isolamento. De início, poucos aceitaram.
Aparentemente, só colocar o desejo de ir fazer sua pesquisa em uma academia em outro lugar não era o suficiente para fazer a maioria dos estudiosos entrar em ação e manifestar o desejo, então eles trocaram de tática. Alteraram os desejos de passar o conhecimento para frente, de lecionar, para o desejo de pesquisar em paz em um lugar sem interrupções. De cidade em cidade, eles passaram por bibliotecas, faculdades e museus, recrutaram alguns com promessas de segurança e recursos; com outros, usaram de chantagem usando segredos obtidos com a leitura mental; também fizeram uso liberal da manipulação de desejo em boa parte, e os que resistiram a isso tudo eram simplesmente eliminados, em um esforço de redução do poder do deus do conhecimento.
No final da década após o golpe de Estado, o reino de Garka estava quase irreconhecível. Por todo o reino, a qualidade de vida melhorou substancialmente, as ruas estavam limpas da sujeira, a fome fora praticamente erradicada, e a falta de necessidade de trabalhos braçais deixava tempo para o povo perseguir outras atividades, a maioria, não construtiva. Bordéis e casas de jogos surgiam em todas as cidades do reino, ateliês de arte, teatros e arenas foram montados, e altares dedicados ao culto de Dilun, a Senda da Alma Serena, no formato do Crânio com a Vela Acesa, apareciam em número cada vez maior.

O Crânio com a Vela Acesa
A construção da academia, nas mãos daquele arquiteto, avançava com rapidez, gozando de um suprimento de mão de obra que não se cansa. E para o trabalho que exigia força bruta, Dravok era chamado, como por exemplo, para escavar a pedra bruta com as suas mãos nuas, abrindo andares e andares de câmaras subterrâneas.
Já havia câmaras que ficaram prontas o suficiente para receber os pesquisadores recrutados por Lura e Virgo, de onde esses foram orientados a prosseguir com a pesquisa de suas especializações, mas que tentassem relacionar suas áreas com a natureza da divindade.
Foi no fim dessa década que Virgo foi chamado por seu Deus pai para os reinos dos deuses. Virgo, um semideus sempre precavido, rapidamente preparou manuais de como a operação deveria seguir e, então, seguindo a sua propensão à teatralidade, convocou seus amigos semideuses à câmara de banho da nova fortaleza, abriu os pulsos para acabar com a própria vida e, assim que seus colegas chegaram, os orientou com instruções do que fazer em sua provável ausência prolongada. Instruções muito bem pensadas, mas explicadas em excruciantes detalhes:
Dilun recebeu planos de novas construções, tanto de tumbas quanto de clínicas e estações de trabalho para otimizar a produção de silenciosos especializados, para embalsamar outros silenciosos, para servir como guarda e exército, para fazer trabalhos manuais, etc., além de sugestões de hierarquização dos devotos e seguidores.
Lura recebeu uma relação de sábios, poetas e artistas que eles deveriam recrutar para o reino, bem como os planos do monastério do saber, para continuar as construções e pesquisas.