“Um fracasso.” Esse era o único jeito ao qual seu pai se referia a sua prole.

Imagem gerada por IA

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Essa história começa 23 anos atrás, nos laboratórios escusos localizados nas masmorras da sede da Casa Azyrhal.

“Finalmente um espécime viável,” Aegon Azyrhal disse, ao cortar a barriga da última de suas escravas que se deitavam uma do lado da outra em uma grande mesa de pedra. Descartando o corpo mutilado de onde a criança saiu, ele pega o bebê recém-nascido em suas mãos e o examina.

“Um fracasso,” ele disse ao ver o sangue de tom amarelado saindo pelo cordão umbilical e a feia deformidade em seu rosto, uma marca de nascença nas beiras de seu olho direito.

O bebê era um menino completamente saudável, e chorava com fortes pulmões. Nas mãos de qualquer outro, seria motivo de felicidade, mas Aegon tinha somente um objetivo em mente com esse experimento, e estava mais que claro que, embora fosse um avanço, ele ainda teria que ajustar o procedimento.

Ele descartou a criança para a mesa, junto do cadáver da sua mãe, e procedeu a retornar aos seus aposentos.

“Mas meu lorde, e o bebê?” uma das amas de leite escravas de Aegon, chamada Vhanyr, perguntou.

“Descarte-o. Isso aí é um fracasso, nada mais,” ele disse em tom frio, se retirando, nem sequer olhar para a serviçal.

Mas ela não teve a força para sacrificá-lo. Não, ela foi contra a palavra de seu senhor, e o sequestrou para a morada dos escravos. “Já houve outros que sobreviveram o parto, nenhum por mais que alguns dias,” ela pensou. “Cuidarei dele até lá.”

Ela manteve a criança em segredo, criando-a nos confins dos aposentos dos escravos do castelo. Não ousou dar-lhe um nome, apenas o chamava de meu pequeno dragão. Este bebê fora um dos poucos que sobrevivera o traumático parto dentre inúmeros, e, contra todas as probabilidades, seguiu vivo por meses, e depois anos.

Este pequeno dragão, agora criança, era quieto, observador e curioso. Ele adorava explorar o castelo, para o desespero de sua mãe. Seus cabelos prateados, raspados como os de um escravo, traíram sua herança da nobreza valiriana, mas seus olhos vermelhos como sangue de escravo eram o suficiente para apaziguar qualquer curiosidade, quando somada a desculpa de ser um bastardo. Não tinha o fogo de dragão nos olhos como um verdadeiro dragão dourado de Azyrhal.

O pequeno dragão foi mantido em segredo por quatro anos, até que por acidente ele foi capturado por um dos guardas ao tentar afanar um pedaço de pão das cozinhas, e foi levado até seu “pai”. A sua mãe adotiva, assim que descobriu o paradeiro de seu querido dragãozinho, em prantos, chegou aos aposentos de Aegon Azyrhal, implorando para que a vida de seu filho fosse poupada. Ele a viu com a sua indiferença típica, seguida de um olhar de ofensa por ter uma escrava se dirigindo a ele sem ter sido chamada. Mas havia mais alguma coisa de errado, tinha algo que lhe capturou a curiosidade. Sim. Ele se reconheceu nos olhos vermelhos do rapaz.

“Desgraçada! Insubordinada! Este é o bebê que a mandei descartar há anos, e você o criou como se fosse seu!?” Aegon esbaforiu, dando um forte tapa na cabeça da mulher, que caiu ao chão, deixando uma leve mancha de sangue vermelho em sua mão. “Ele não passa de um fracasso, mas ainda assim está léguas acima de você.” O lorde olha para a criança. “Você não é meu filho,” Ele pega o braço da criança com força, quase quebrando-o “mas mesmo seja que muito pouco, meu tem o meu sangue correndo por suas veias. Ainda deve ter seu valor.”

Ele então olha de volta a Vhanyr, e depois, aos guardas que a seguravam. “Sabem a punição a quem me desobedece.” Os guardas consentiram em silêncio, e com suas espadas, rapidamente a decapitaram, bem em frente aos olhos vermelhos de seu o pequeno dragão.

“E quanto a esse fracasso,” Aegon olha de volta para a criança. “Vendam-no como escravo para algum feiticeiro. Se não estou errado, o navio que parte para Asshai da Sombra está na cidade até amanhã. Estou curioso para ver se usarão isso como comida ou como insumo para seus feitiços.”

No dia seguinte o fracasso fora levado até o porto. Sem compreender muito bem o que acontecia, a criança observava os guardas conversando com um velho homem usando vestes exóticas em preto. O senhor se aproximou, e com uma adaga que sacara de suas mangas, cortou uma lasca de sangue no braço do fracasso. Ele viu o leve vestígio de sangue dourado que vazava das veias do menino. Ele menciona algo em uma língua estranha aos guardas, e entrega um saco de 10 dragões de ouro a eles.

Sem que nem houvesse tempo de compreender o que ocorrera, este velho senhor enfaixou o braço cortado do fracasso, e o puxou até o navio. O navio tinha formas estranhas entalhadas na madeira negra, e em suas velas estava o símbolo disforme das longínquas terras sombrias.

A viagem duraria um ano inteiro, e, prodigiosamente, pelo menos nesses primeiros meses, o fracasso havia permanecido sem um arranhão. Ao contrário. Parece que o velho tinha um certo zelo pelo menino. Nesse tempo os outros escravos começaram a chamá-lo de Qeldlie, a palavra do alto valiriano que significa amarelo, tal qual a cor de seu sangue.